quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

UM HOMEM CHAMADO RATZINGER


Fiquei profundamente emocionado quando soube, na segunda-feira de carnaval (11/02), da renúncia do Papa Bento XVI ao comando da Igreja Católica (Trono de São Pedro).

Desde sua eleição, em 2005, repito que a Igreja e o mundo estavam na presença de um dos maiores intelectuais e teólogos dos últimos séculos, a sua atitude ao abdicar do pontificadoprovou, de modo absolutamente surpreendente, que não estava errado!

Lembro-me da reação de membros da Igreja, clérigos e leigos, quando Joseph Ratzinger tornou-se papa. Alguns, influenciados por uma teologia tola e rasteira, que mesclava política partidária e sindical com o Novo Testamento(o que sangrou a Igreja em milhões de fiéis, pois se esquecia de pastorear suas almas), mostraram-se indignados com o que consideraram uma escolha conservadora e reacionária. Outros, ainda hipnotizadospelaimagem portentosa do super carismático João Paulo II, não se entusiasmaram muito com um papa tímido, que ao ser apresentado na sacada da Basílica de São Pedro à multidão mal erguia os braços para acenar e saudá-la, parecendo não estar à vontade no novo papel.

Por outro lado, eu, como espectador do tempo, que não sou religioso (mas sou devoto de Nossa Senhora de Fátima e converso com o Criador ao meu modo) e sei da importância da Igreja para a história do nosso mundo, que se confunde com a sua própria, fiquei feliz coma ascensão ao papado do cardeal alemão. Depois de séculos, a Igreja voltava a ter um grande intelectual a conduzí-la, por si, isso já deveria ser motivo de regozijo para todos, especialmente para aqueles que se ocupam de estudar os mistérios do complexo espírito humano.

Isso se comprova não só pela largueza de sua produção bibliográfica, que culminou faz pouco com os livros sobre a vida de Jesus (o que demonstra que mesmo o peso da responsabilidade de ser o Vigário de Cristo não impediu o intelectual teólogo de trabalhar), mas, sobretudo com as medidas adotadas à frente da Igreja, que têm o objetivo de flexibilizá-la, para enfrentar um tempo de rápidas transformações. É alvissareiro, para o futuro da Igreja, ouvir Dom Odilo Scherer, cardeal brasileiro e um dos principais colaboradores de Bento XVI, discorrer, com propriedade, sobre o tema pós-modernidade, assunto que muitos professores universitários sequer sabem abordar.

Lutou contra os escândalos internos, como o dos padres pedófilos, determinando que as dioceses comunicassem e colaborassem os casos às autoridades policiais; contemporizou com o uso do contraceptivo “camisinha”; abriu, até onde possível, os arquivos do Vaticano (afinal a Igreja não é um órgão público governamental), permitindo que viesse à luz a verdade do processo contra os Cavaleiros Templários, no séc. XIV; sintonizou definitivamente a Igreja com a era da internet ao criar recentemente o seu twiter. Tudo isso além das funções tradicionais de Sumo Pontífice (celebrações, canonizações, viagens). Tudo isso em apenas 8 anos, para um homem que foi escolhido papa aos 77, na trajetória da Igreja que tem 2000.

Bento XVI renunciou não por que conspirações mirabolantes entre cardeais, banqueiros e a máfia tenham inviabilizado seu pontificado (como neuróticos, com mania de perseguição, começam a propagar para explicara abdicação). Bento XVI escolheu deixar de ser o interlocutor de Deus no mundo porque é Ratzinger.

Reflexão pungente e respeitosa me atinge quando penso na titânica luta travada entre Bento XVI e Joseph Ratzinger. A responsabilidade mística de ser papa, o Vigário de Deus, e o humilde reconhecimento de ser apenas um homem idoso de 85 anos, em cujo corpo a passagem do tempo cobra o seu tributo.

Seguindo sua fé inabalável, conversando em orações solitárias e meditativas com o Criador, a intelectualidade do homem Ratzinger ajudou a humildade a vencer qualquer resquício de vaidade que o poder e a místicade ser papa confere a um humano. O Criador deve ter lhe falado: “Cumpristes bem tua missão, Ratzinger, reconheço que é hora do teu descanso”. Emergiu vitorioso um senhor que se recolherá ao isolamentoesperando o momento de sua ida, ensinando, do alto de sua sabedoria, como um homem, por poderoso que tenha sido, deve sair de cena quando sua vitalidade começa a se esvair.

Obrigado por ter vivido na sua época meu Cardeal e Papa, saudações Mestre Joseph Ratzinger, pois “O Senhor é nosso pastor e nada nos faltará”
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Artigo de autoria de Geraldo Filho 
Sociólogo, Bacharel e Mestre: professor do Campus da UFPI de Parnaíba

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