terça-feira, 19 de junho de 2012

‘Não terás outro “deus” além da web”?


O primeiro analisa o trabalho paradoxal de uma técnica que, de um lado, “corrói o trono de Deus”, achatando no presente a nossa experiência (e, assim, neutralizando a perspectiva escatológica), de outro lado, se apropria do papel da produção de sentido, impedindo que a humanidade se tornasse sujeito e não mais objeto da história.

O segundo se concentra sobre o fascínio de um discurso tecnológico que promete – graças à “melhoria” eugenética da espécie e das práticas de hibridização humano-máquina – realizar neste mundo o grande anúncio que a religião projetava no além, isto é, a definitiva derrota da morte.

Mesmo quem compartilha esses argumentos, no entanto, não pode deixar de levantar uma dúvida: não corremos o risco de atribuir dignidade de religião a uma ideologia que, no fundo, refere-se a um punhado de “visionários” tecnófilos? E, se se trata de religião, onde estão as massas de fiéis evocadas pouco acima? Porém, não é difícil responder: como definir de outro modo as centenas de milhões de usuários do Facebook, Twitter, iTunes e de outras redes sociais que aceitam se submeter aos editos de Zuckerberg e outros “sumo sacerdotes”, que detêm o poder de mudar as suas vidas modificando poucos parâmetros?

O Grupo Ippolita, um coletivo libertário autor do e-book Nell’acqario di Facebook (em alguns meses ele também será publicado em papel), o chama de default power e acrescenta um outro argumento convincente: definir como religiosa a fé cega, comum a anarcocapitalistas e hackers, ciberliberais de direita, como Zuckerberg, e de esquerda, como Assange, na bondade da informação como dispensadora de verdade e de liberdade, apesar de todas as provas que demonstram como, ao contrário, nos encontramos diante de novos instrumentos de manipulação de massa?
Em conclusão: não é difícil entender por que intelectuais católicos de ponta, como o diretor da Civiltà Cattolica, Pe. Antonio Spadaro, se comprometem a refletir sobre as implicações teológicas da internet:não é simples curiosidade intelectual, mas sim luta para combater a ascensão de um rival que, ao menos no Ocidente, poderia se revelar mais perigoso do que o Islã.

Pe. Eduardo Furtado - Proparnaiba

Compartilhar #

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 Comentarios "‘Não terás outro “deus” além da web”?"