Os
bispos do Regional Nordeste 4 da CNBB (Piauí) divulgaram a poucos
instantes uma Nota Pública sobre a estiagem que está ocasionando uma
rigorosa seca no Sertão do estado.
De acordo com um trecho da nota, muitos
municípios atingidos pelo flagelo já decretaram estado de calamidade
pública. “A água potável, que é fundamental para a sobrevivência humana,
já está faltando em muitos recantos do nosso querido Piauí”.
Ainda segundo o texto, os bispos do
Piauí lançam um apelo aos que têm responsabilidade de governo, em todos
os níveis do estado, para que esforços sejam realizados em vista da
superação da pobreza e da miséria no semiárido, que “começa com a
garantia de água de qualidade para o consumo humano; garantia de
alimentação adequada para as famílias; geração de trabalho e renda com a
implantação de novas tecnologias adaptadas à realidade climática da
região e uma educação contextualizada, viabilizando as potencialidades
humanas, naturais e culturais da região”.
Click abaixo e leia a nota do Regional Nordeste 4 da CNBB:
Nota dos bispos da CNBB – Regional Nordeste 4 aos Governantes e ao Povo Piauiense
“Eu vi a opressão de meu povo no Egito
diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci
para libertá-lo das mãos dos egípcios.” (Ex 3, 8).
01. O povo do sertão piauiense,
sobretudo do semiárido, depara-se, novamente frente à prolongada
estiagem que está ocasionando uma rigorosa seca. Muitos municípios
atingidos pelo flagelo já decretaram estado de calamidade pública. A
água potável, que é fundamental para a sobrevivência humana, já está
faltando em muitos recantos do nosso querido Piauí.
02. Ao contemplar as marcas do
sofrimento humano no rosto do sertanejo, vítima da seca, percebe-se a
frontal negação de seus direitos humanos mais fundamentais,
desestruturando-o humana e espiritualmente.
03. As consequências decorrentes da seca
são muito amplas, entre as quais se podem destacar: (a) Desarticulação e
desintegração da família, provocando uma migração forçada de pais que,
desesperados, abandonam esposas e filhos e partem, muitas vezes, para
nunca mais voltar; (b) portas se abrem com facilidade para o
inescrupuloso tráfico humano e o abominável trabalho escravo; (c)
comprometimento dos valores éticos, permitindo o uso da situação de
extrema vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, limitando o
livre exercício da cidadania, facilitando a compra de votos e a
corrupção eleitoral; (d) agravamento da situação econômica relegando
muitas famílias à extrema pobreza, expondo-as a situações degradantes,
em que desfiguradas em sua humanidade, muitos não são mais reconhecidos
sequer como pessoas humanas portadoras de direitos e dignidade.
04. Diante de problemas cruciais que
atingem tantas famílias, levanta-se o questionamento sobre o verdadeiro
papel do Estado, dos Governos e da Sociedade organizada como um todo. Se
de um lado, os governos são escolhidos e existem para gerenciar e
cuidar das questões do Estado; por outro lado a razão de ser do Estado é
colocar-se a serviço do povo, especialmente dos mais necessitados. Por
isso, não é mais admissível que se repita novamente o que, em outros
tempos, se denominou indústria da seca. Vivendo em pleno início da
segunda década do terceiro milênio da era cristã, época em que
predominam a ciência e tecnologia, a informática, cibernética e
robótica, não mais se pode admitir que milhares de pessoas não tenham
acesso às condições básicas para viverem dignamente, tais como dispor de
água de qualidade para saciar a sede e garantia de alimentos para
saciar a fome.
05. As ações de políticas públicas
comumente adotadas frente ao flagelo da seca têm sido a prestação de
socorro imediato às vítimas com a entrega de cestas básicas de alimentos
e de águas em carros pipas e, em longo prazo, construção de cisternas e
de pequenos e grandes açudes. Embora tais medidas sejam necessárias,
elas não são suficientes para se conviver com o semiárido. É hora de o
Governo escutar a sociedade organizada e os que são atingidos pelo
flagelo das prolongadas estiagens, a fim de se buscar soluções adequadas
e duradouras para o problema. A esse respeito, convém lembrar o que,
certa vez, declarou Betinho: “A luta contra a miséria e a forme tem
dupla dimensão: a emergencial e a estrutural. A articulação entre as
duas dimensões é complexa e cheia de astúcias. Atuar no emergencial sem
considerar o estrutural é contribuir para perpetuar a miséria. Propor o
estrutural sem atuar no emergencial é praticar o cinismo de curto prazo
em nome da filantropia de longo prazo.”
06. Diante da grave situação das vítimas
da seca, os bispos do Piauí lançam um apelo aos que têm
responsabilidade de governo, em todos os níveis do Estado, para que
esforços sejam realizados em vista da superação da pobreza e da miséria
no semiárido, que começa com a garantia de água de qualidade para o
consumo humano; garantia de alimentação adequada para as famílias;
geração de trabalho e renda com a implantação de novas tecnologias
adaptadas à realidade climática da região e uma educação
contextualizada, viabilizando as potencialidades humanas, naturais e
culturais da região.
07. Frente ao atual flagelo, propomos
que seja criada imediatamente a “Bolsa Alimentação” no valor de R$
300,00 (trezentos reais) mensais, num período de 06 meses, para cada
família atingida pela seca do ano de 2012 e adequada fiscalização para
que os recursos sejam aplicados com absoluta transparência e
distribuídos sem discriminação partidária.
08. Suplicamos que o Espírito Santo de
Deus ilumine a mente e o coração dos governantes e dos que têm
responsabilidade política e social com o nosso povo para que nos unamos e
empreendamos ações em vista da superação dessa situação.
Dom Alfredo Schaffler
Presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Parnaíba
Presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Parnaíba
Dom Juarez Souza da Silva
Vice-presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e bispo de Oeiras
Vice-presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e bispo de Oeiras
Dom Plínio José Luz da Silva
Secretário da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Picos
Secretário da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Picos
Dom Jacinto de Brito Furtado Sobrinho - Arcebispo de Teresina
Dom João Santos Cardoso - Bispo de São Raimundo Nonato
Dom João Santos Cardoso - Bispo de São Raimundo Nonato
Dom Eduardo Zielski - Bispo de Campo Maior
Dom Valdemir Ferreira dos Santos - Bispo de Floriano
Dom Ramon Carrozas - Bispo de Bom Jesus
Dom Augusto Alves da Rocha - Bispo Emérito de Floriano
Dom Miguel Fenelon Câmara Filho - Arcebispo Emérito de Teresina
Dom Celso José Pinto da Silva – Arcebispo Emérito de Teresina
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