sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

PLURALISMO RELIGIOSO


A sociedade brasileira é hoje fortemente marcada pelo pluralismo religioso. Este pluralismo acentuou-se muito nos últimos anos, tanto no plano quantitativo quanto na variedade das formas.
A porcentagem dos que se declaram católicos tem diminuído nos últimos trinta anos. O Censo de 1970 contava 91,77% de católicos e o último Censo 73,3% em nível nacional.(Rio de Janeiro, 59,3%; São Paulo, 65,2%; Salvador, 65,3%; e Ceará 81%).
Hoje, o sincretismo religioso aumentou de uma maneira impressionante. Há muitos brasileiros com dupla ou tríplice pertença religiosa ou que transitam com facilidade de uma religião a outra, ou ainda constroem sua própria visão religiosa com elementos de diversas procedências. Não dispomos de dados seguros sobre a assiduidade à prática religiosa, embora sabendo que é bastante diversificada. O pluralismo religioso é maior nas grandes cidades e, mais especificamente, na parte periférica dessas cidades.
As causas da situação atual encontram-se, de um lado, no impacto da modernidade, com o processo de desagregação e desenraizamento da cultura tradicional, uma acelerada urbanização, contínuas migrações, agressiva atividade missionária por palie de algumas igrejas cristãs c por parte das seitas etc. Por outro lado encontra-se a história do catolicismo brasileiro, em grande parte constituída por devoções aos santos, transmitidas de geração em geração no ambiente rural e nas famílias, mas pouco assistidas pastoralmente por um clero escasso e mal distribuído. Isso trouxe como conseqüência a falta de uma iniciação cristã e de ligação estável e consciente do povo com os sacramentos e com a instituição eclesial. Compreende-se, assim, porque muitos Católicos não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento pessoal na fé, através de uma verdadeira experiência catequética. 

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Hoje, não é de se estranhar que esses católicos não sintam uma vinculação atual com a Igreja e sejam atraídos por outras religiões, agora que mudaram as condições culturais, em especial pela acelerada urbanização.
No último Censo um terço dos católicos declararam que participaram assiduamente da vida da Igreja. Este é o contingente dos leigos mais conscientes, que assumiram a renovação conciliar com a aceleração do processo de modernização de nossa sociedade. A grande porcentagem dos que estão desligados de qualquer prática religiosa católica coincide com o expressivo número dos que têm enfraquecido os laços religiosos tradicionais. Não se identificam mais com suas devoções antigas, nem aderiram á nova orientação da Igreja. A maioria dos católicos, porém, ainda não participa da vida da Igreja e, mais sério, nem é a1cançada pela atual ação evangelizadora. (oportuno lembrar aqui que há somente um padre para cerca de 7.800 Católicos). Portanto, a evangelização precisa da multiplicação das vocações sacerdotais, religiosos (as), e da atuação dos leigos.
Durante os últimos trinta anos muitos Católicos procuraram outras religiões. A procura aconteceu em duas direções opostas: a do fundamentalismo e a do subjetivismo. No primeiro caso, o fiel acreditou que a Igreja não conservou a fé em sua pureza e buscou uma comunidade que julgou ter redescoberto as origens ou os fundamentos do cristianismo Nela se faz uma leitura literal da Bíblia e nunca se discute a interpretação dada pelo líder ou pastor.
O subjetivismo aumentou o número de católicos que interpretam a seu modo a tradição católica, seja aceitando seus dogmas como referência, mas abandonando a participação no culto, seja misturando-a com elementos de outras religiões, seja descaracterizando parte dos seus conteúdos. O subjetivismo ético deixa uma liberdade ilimitada de opções para cada indivíduo, que podem agir de acordo com os próprios interesses e gostos, criando-se a mentalidade segundo a qual vale tudo.
Há finalmente as "igrejas eletrônicas" que, pela presença constante na TV e programas religiosos de grande popularidade, levam muitos católicos da Igreja. Os programas dirigidos às grandes massas tendem a apelar aos sentimentos religiosos elementares, comuns a todos e, geralmente, não insistem nos aspectos doutrinais para não afastar o público. Prometem curas e milagres de toda espécie e tendem a espetacularizar e a banalizar a religião, nivelando-a com entretenimentos televisivos de todo tipo.
Nas diversas esferas da vida política, econômica, cultural, bem como nas mais diferentes profissões comprova-se um relativismo ético, que chega, até, a determinar em grande parte os relacionamentos afetivos e familiares. Nesse horizonte, as pessoas não dispõem mais de pontos de referência para orientar a própria conduta e, neste caso, sua conduta religiosa. É tarefa da Igreja católica dar a devida ênfase à questão ética, indicando seus verdadeiros fundamentos. A "ditadura do relativismo", da qual fala Bento XVI, é conseqüência direta da negação da verdade em sentido objetivo e transcendente (Veritatis esplendor, nº 99). A dignidade e a consciência moral consistem no conhecimento e na obediência à lei de Deus, inscrita no coração da pessoa humana (GS, n. 16). A Igreja de Cristo é Una, Santa, Católica e Apostólica.
A unidade vivida na Igreja Católica leva-nos a buscar com perseverança e confiança, na graça do Pai, a comunhão de todos os que crêem em Cristo, Filho ele Deus e Único Salvador, que, porém, vivem a Fé em Cristo e em seu Evangelho, na pluralidade de interpretações da fé e outras experiências culturais assimiladas ao longo ela História. O desejo explícito de Cristo: "Tenho outras ovelhas que não estão neste curral. Eu preciso trazer essas também, e elas ouvirão a minha voz. Então elas se tornarão um só rebanho -com um só pastor" (Jo 10,16) é a busca da Unidade, obra do Espírito. Isso nos leva também a preocupar-nos seriamente com os católicos que estão saindo do curral de Cristo. Temos que nos perguntar por que há este atual êxodo de fiéis da Igreja Católica, a única fundada pelo próprio Cristo, para outras denominações cristãs e não-cristãs. A Santa Sé nos oferece alguns excelentes documentos para nos orientar neste sentido: A carta Encíclica "Ut Unum Sint", o Decreto "Unitatis Redintegratio" e "Nostra Aetate" do Vaticano II, do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos nós temos: “Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo", "A dimensão ecumênica na formação dos que trabalham no ministério pastoral", "Diálogo Católico-Pentecostais" etc. Entre os Estudos da CNBB podemos indicar "A Igreja Católica diante do Pluralismo Religioso no Brasil", números 62, 69 e 71.


Por: Pe. Brendan Coleman 
fonte:CNBB

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