Algumas pessoas afirmam que a Igreja usa dois pesos e duas medidas ao permitir que ex-padres comunguem, mas não as pessoas divorciadas. Estas mesmas pessoas dizem que a Igreja protege os ex-padres dando a eles um regime disciplinar mais ameno, enquanto pune os divorciados, afastando-os da mesa da Comunhão. Isso é verdade?
Para responder a essa questão, primeiro é necessário esclarecer que a Igreja não usa dois pesos e duas medidas: a regra única válida para todos é: não é possível realizar atos sexuais fora do santo matrimônio. Como dito, essa regra vale para todos: leigo, padre, ex-padre, bispo, Papa, até o último fiel, no último lugar da Igreja. É para todos: a sexualidade só pode ser exercida dentro do sacramento do matrimônio.
Ora, dizer que o matrimônio é um sacramento é o mesmo que dizer que ele foi instituído por Jesus Cristo, ou seja, é um vínculo indissolúvel entre um homem e uma mulher e, uma vez contraído, nem mesmo a Igreja tem o poder de dissolvê-lo. Somente a morte pode quebrar esse vínculo.
Sendo assim, o que dizer dos Tribunais Eclesiásticos? Para que servem? Eles existem para, na maior parte dos casos, averiguar se aquele matrimônio realmente aconteceu. O que o Tribunal faz é declarar, após a devida investigação, que aquele matrimônio foi nulo, ou seja, jamais aconteceu. Assim sendo, ambos são livres e podem namorar, até mesmo casar.
O celibato sacerdotal, por sua vez, não é um sacramento, mas tão somente uma forma de Igreja enxergar que o sacerdote ordenado configura-se ao Cristo celibatário. É um estilo de vida, uma promessa que o sacerdote realiza na ordenação diaconal. A promessa é feita à Igreja. Sendo assim, ela tem o poder para dispensá-lo da promessa.
A Igreja, porém, não é tão pródiga ao conferir a dispensa do celibato. É necessário um processo diocesano ser apresentado à Santa Sé e a Congregação para o Clero julgar. Quando esses juízes apresentarem seu parecer, a causa é encaminhada ao Santo Padre em pessoa que decidirá, por fim, se concede ou não a dispensa solicitada. A dispensa é concedida aos diáconos por causas graves e aos sacerdotes por causas gravíssimas.
Assim, é preciso atentar para a natureza diversa das duas realidades, pois, uma coisa é o sacramento do matrimônio, sobre o qual a Igreja não tem poder, e outra coisa é o celibato, uma promessa sobre a qual a Igreja pode exercer o poder das chaves.