quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Igreja ensina a diferença entre capitalismo e capetalismo

Muitos de vocês devem ter ouvido falar que o Papa Francisco publicou há poucos dias a sua primeira exortação apostólica, que está dando o que falar. A Evangelii Gaudium defende a reforma das estruturas católicas, de forma que se tornem “mais missionárias”, e que a igreja seja “mais comunicativa e aberta”.

consumismo

O Papa Francisco levanta a voz contra “uma economia da exclusão e da desigualdade social”, uma economia que mata. Ele cita o grave pecado da usura, pelo qual as nações mais ricas exploram as mais pobres por meio da imposição de juros abusivos, e alerta a cada um de nós sobre a escravidão e a loucura do consumismo. Também nos exorta a não sermos indiferentes ao sofrimento dos pobres.

“A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.” (EG, 54)

“Quer dizer então que a Igreja condena o capitalismo?”. Não, amigos. Ela sempre denunciou, isso sim, os abusos desse sistema, gerados especialmente pela “autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira” (EG, 56).

friboi_carneBastou o Papitcho dizer essas coisas lindas, que já veio um bando de estrupício espalhar na web que ele é simpático ao comunismo. O problema é que o povo aprendeu com a Tia Cocota a sempre raciocinar em termos de capitalismo X socialismo. Aí, quando ouve alguém criticando os desvios do capitalismo, logo pensa que o sujeito é de esquerda e está apontando o socialismo como alternativa. Não viajem!

Gente, vão ler ao menos a encíclica Rerum Novarum e o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, antes sair por aí opinando na base da fanfarronice. Francisco trouxe à tona e deu novo frescor a vários pontos desses documentos, com os quais a sua exortação apostólica está em perfeito acordo.

Na Evangelii Gaudium, o Papa Francisco recomenda vivamente a leitura do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Pra quem não sabe, esse expõe de modo sintético, mas completo, o ensinamento social da Igreja. Explica questões como a opção preferencial da Igreja pelos pobres e o chamado para transformar a realidade social com a força do Evangelho.

Sobre o CAPITALISMO, nós católicos devemos saber, basicamente, que:

    a Igreja considera o capitalismo algo positivo, “Se por ‘capitalismo’ se indica um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da conseqüente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no sector da economia” (CDSI, §347);

    a Igreja é a favor do livre mercado, e entende que este deve promover “Um verdadeiro mercado concorrencial”, que modere “os excessos de lucros das empresas singulares” e permita que os consumidores confrontem e adquiram os produtos “em um contexto de saudável concorrência” (CDSI, §335);

    a Igreja considera o capitalismo algo negativo, “se por ‘capitalismo’ se entende um sistema onde a liberdade no setor da economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade, cujo centro seja ético e religioso” (CDSI, §335);

    ainda que seja a favor do livre mercado, a Igreja adverte que este “não pode encontrar em si mesmo o princípio da própria legitimação”. Afinal, se o livre mercado perde de vista a utilidade social, visando unicamente o benefício individual do operador econômico, então pode se “degenerar em uma instituição desumana e alienante, com repercussões incontroláveis” (CDSI, §348).

Então, notem que a Igreja não tem problema algum com o capitalismo, desde que, dentro deste sistema, procure-se garantir a dignidade e a liberdade de todos os cidadãos, seja no acesso à informação quanto aos bens básicos.

A Doutrina Social da Igreja, de forma alguma, diz que não pode haver pessoas mais ricas do que as outras; afinal, há diversidade de talentos e de iniciativas pessoais. A Igreja condena, sim, os grandes extremos de desigualdade, as situações em que muitos não têm o básico para viver bem, e poucos têm bens em excesso.

Quanto ao socialismo, este foi duramente condenado por dez papas, sendo oficialmente rejeitado pela Igreja como solução para a pobreza. E, bem diferente do que muitos imaginam, o socialismo NÃO é um elemento oposto ao capitalismo. Conforme o amigo Paulo Ricardo Costa explica, essa oposição é impossível, pois tratam-se de elementos com finalidades diversas. Tão diversas quanto as finalidades de um peixe e de uma torradeira.

Achou estranho a gente dizer que capitalismo e socialismo não são opostos? Pois é isso mesmo. “O capitalismo é um sistema econômico, uma forma de produção de riquezas. O socialismo, por outro lado, é uma filosofia que nasceu do cientificismo, grande praga que assolou e assola a humanidade desde o iluminismo mas que tornou-se muito poderosa no século XIX. É uma filosofia e, a partir dela, formou-se toda uma cultura” (Paulo Ricardo).

Tanto isso é verdade que a China, dominada por um governo comunista, conquistou grandes resultados por meio do sistema capitalista. E também na Suécia, país que possui uma das economias mais competitivas do mundo, a sociedade é dominada por um governo social democrata, e já absorveu quase que completamente os ideais ateus e anticristãos do socialismo (pra entender melhor, estudem sobre Gramsci e a  Revolução Cultural, aquela terrível, mas que não se faz com armas).

fonte: O Catequista

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