Por: Padre Eduardo Furtado (Site Proparnaiba)
O problema do homossexualismo e do juízo ético acerca dos atos homossexuais tornou-se cada vez mais objeto de debate público, mesmo em ambientes católicos.
Em tal discussão, propõe-se muitas vezes argumentos e
exprime-se posições não conformes com o ensinamento da Igreja Católica,
que suscitam justa preocupação em todos aqueles que se dedicam ao
ministério pastoral.
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Por esse motivo esta Congregação julga o problema
tão grave e difuso que justifica a presente Carta sobre o atendimento
pastoral às pessoas homossexuais, Carta dirigida a todos os Bispos da
Igreja Católica. 2. Naturalmente, não se pretende elaborar neste texto
um tratado exaustivo sobre um problema tão complexo. Prefere-se
concentrar a atenção no contexto específico da perspectiva moral
católica. Esta encontra apoio também nos resultados seguros das ciências
humanas, as quais, também, possuem objeto e método que lhes são
próprios e gozam de legítima autonomia. A posição da moral católica
baseia-se na razão humana iluminada pela fé e guiada conscientemente
pela intenção de fazer a vontade de Deus, nosso Pai. Desta forma, a
Igreja está em condições não somente de poder aprender das descobertas
científicas, mas também de transcender-lhes o horizonte; ela tem a
certeza de que a sua visão mais completa respeita a complexa realidade
da pessoa humana que, nas suas dimensões espiritual e corpórea, foi
criada por Deus e, por sua graça, é chamada a ser herdeira da vida
eterna. Somente em tal contexto poder-se-á compreender com clareza em
que sentido o fenómeno do homossexualismo, em suas múltiplas dimensões e
com seus efeitos sobre a sociedade e sobre a vida eclesial, é um
problema que afeta propriamente a preocupação pastoral da Igreja. Por
isto mesmo, requer-se dos seus ministros atento estudo, empenho concreto
e reflexão honesta, teologicamente equilibrada. 3. Já na « Declaração
acerca de algumas questões de ética sexual » de 29 de dezembro de 1975, a
Congregação para a Doutrina da Fé tratava explicitamente deste
problema. Naquela Declaração, salientava-se o dever de procurar
compreender a condição homossexual e se observava que a culpabilidade
dos atos homossexuais deve ser julgada com prudência. Ao mesmo tempo, a
Congregação levava em consideração a distinção feita comumente entre a
condição ou tendência homossexual, de um lado, e, do outro, os atos
homossexuais. Estes últimos eram descritos como atos que, privados da
sua finalidade essencial e indispensável, são « intrinsecamente
desordenados » e, como tais, não podem ser aprovados em nenhum caso
(cfr. n. 8, § 4). Entretanto, na discussão que se seguiu à publicação da
Declaração, foram propostas interpretações excessivamente benévolas da
condição homossexual, tanto que houve quem chegasse a defini-la
indiferente ou até mesmo boa. Ao invés, é necessário precisar que a
particular inclinação da pessoa homossexual, embora não seja em si mesma
um pecado, constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos
acentuada, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista
moral. Por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como
objetivamente desordenada. Aqueles que se encontram em tal condição
deveriam, portanto, ser objeto de uma particular solicitude pastoral,
para não serem levados a crer que a realização concreta de tal tendência
nas relações homossexuais seja uma opção moralmente aceitável. 4. Uma
das dimensões essenciais de um autêntico atendimento pastoral é a
identificação das causas que provocaram confusão quanto ao ensinamento
da Igreja. Entre elas, deve-se assinalar uma nova exegese da Sagrada
Escritura, segundo a qual a Bíblia ou não teria nada a dizer acerca do
problema do homossexualismo, ou até mesmo tacitamente o aprovaria, ou
então ofereceria prescrições morais tão condicionadas cultural e
historicamente, que afinal não mais poderiam ser aplicadas à vida
contemporânea. Tais opiniões, gravemente erróneas e desorientadoras,
requerem, portanto, uma especial vigilância. 5. É verdade que a
literatura bíblica é tributária das várias épocas nas quais foi escrita,
com relação a grande parte dos seus modelos de pensamento e de
expressão (cfr. Dei Verbum, n. 12). Certamente, a Igreja de hoje
proclama o Evangelho a um mundo bastante diferente do mundo
antigo. Por outro lado, o mundo no qual foi escrito o Novo Testamento
estava já consideravelmente mudado, por exemplo, quanto à situação na
qual foram escritas ou redigidas as Sagradas Escrituras do povo judeu.
Deve-se ressaltar todavia que, embora no contexto de uma diversidade
notável, existe uma evidente coerência no interior das mesmas Escrituras
no que diz respeito ao comportamento homossexual. Por isto, a doutrina
da Igreja acerca deste ponto não se baseia apenas em frases isoladas,
das quais se podem deduzir argumentações teológicas discutíveis, e sim
no sólido fundamento de um testemunho bíblico constante. A atual
comunidade de fé, em ininterrupta continuidade com as comunidades
judaicas e cristãs no seio das quais foram redigidas as antigas
Escrituras, continua a alimentar-se com aquelas mesmas Escrituras e com o
Espírito de Verdade do qual elas são a Palavra. É igualmente essencial
reconhecer que os textos sagrados não são realmente compreendidos quando
interpretados de um modo que contradiz a vigente Tradição da Igreja.
Para ser correia, a interpretação da Escritura deve estar em acordo
efetivo com esta Tradição. A este respeito, assim se exprime o Concílio
Vaticano II: « É claro, pois, que a Sagrada Tradição, a Sagrada
Escritura e o Magistério da Igreja, por sapientíssima disposição de
Deus, são entre si tão relacionados e unidos, que não podem subsistir
independentemente, e todos juntos, segundo o modo próprio de cada um,
sob a ação de um só Espírito Santo, contribuem eficazmente para a
salvação das almas » (Dei Verbum, n. 10). À luz dessas afirmações aqui
se delineia sucintamente o ensinamento da Bíblia sobre a matéria. 6. A
teologia da criação, presente no livro do Génesis, fornece o ponto de
vista fundamental para a adequada compreensão dos problemas suscitados
pelo homossexualismo. Na sua infinita sabedoria e em seu amor
onipotente, Deus chama à existência toda a criação, como reflexo da sua
bondade. Cria o homem à sua imagem e semelhança, como varão e mulher.
Por isto mesmo, os seres humanos são criaturas de Deus chamadas a
refletir, na complementariedade dos sexos, a unidade interna do Criador.
Eles realizam esta função, de modo singular, quando, mediante a
recíproca doação esponsal, cooperam com Deus na transmissão da vida. O
capítulo 3 do Génesis mostra como esta verdade acerca da pessoa humana
como imagem de Deus foi obscurecida pelo pecado original. Daí provém
inevitavelmente uma perda da consciência acerca do caráter de aliança,
próprio da união que as pessoas humanas mantinham com Deus e entre si.
Embora o corpo humano conserve ainda o seu « significado esponsal »,
este, agora, é obscurecido pelo pecado. Assim, o deterioramento devido
ao pecado continua a desenvolver-se na história dos homens de Sodoma
(cfr. Gn 19, 1-11). Não pode haver dúvidas quanto ao julgamento moral aí
expresso contra as relações homossexuais. Em Levítico 18, 22 e 20, 13,
quando se indica as condições necessárias para se pertencer ao povo
eleito, o Autor exclui do povo de Deus os que têm um comportamento
homossexual. Tendo como tela de fundo esta legislação teocrática, São
Paulo desenvolve uma perspectiva escatológica, dentro da qual repropõe a
mesma doutrina, elencando também entre aqueles que não entrarão no
reino de Deus os que agem como homossexuais (cfr. 1 Cor6, 9). Em outra
passagem do seu epistolário, baseando-se nas tradições morais dos seus
ancestrais, mas colocando-se no novo contexto do confronto entre o
cristianismo e a sociedade
pagã do seu tempo, ele apresenta o comportamento homossexual como um
exemplo da cegueira em que caiu a humanidade. Tomando o lugar da
harmonia original entre Criador e criatura, o grave desvio da idolatria
levou a todo tipo de excessos no campo moral. São Paulo aponta o exemplo
mais claro desta desarmonia exatamente nas relações homossexuais (cfr.
Rm 1, 18-32). Enfim, em perfeita continuidade com o ensinamento bíblico,
na lista dos que agem contrariamente à sã doutrina, são mencionados
explicitamente como pecadores aqueles que praticam atos homossexuais
(cfr. 1 Tm1, 10). 7. A Igreja, obediente ao Senhor que a fundou e
a enriqueceu com a dádiva da vida sacramental, celebra no sacramento do
matrimónio o desígnio divino da união do homem e da mulher, união de
amor e capaz de dar a vida. Somente na relação conjugal o uso da
faculdade sexual pode ser moralmente reto. Portanto, uma pessoa que se
comporta de modo homossexual, age imoralmente. Optar por uma atividade
sexual com uma pessoa do mesmo sexo equivale a anular o rico simbolismo e
o significado, para não falar dos fins, do desígnio do Criador a
respeito da realidade sexual. A atividade homossexual não exprime uma
união complementar, capaz de transmitir a vida e, portanto, contradiz a
vocação a uma existência vivida naquela forma de auto-doação que,
segundo o Evangelho, é a essência mesma da vida cristã. Não quer dizer
que as pessoas homossexuais não sejam frequentemente generosas e não se
doem, mas quando se entregam a uma atividade homossexual, elas reforçam
dentro delas mesmas uma inclinação sexual desordenada, caracterizada em
si mesma pela auto-complacência. Como acontece com qualquer outra
desordem moral, a atividade homossexual impede a auto-realização e a
felicidade porque contrária à sabedoria criadora de Deus. Refutando as
doutrinas erróneas acerca do homossexualismo, a Igreja não limita, antes
pelo contrário, defende a liberdade e a dignidade da pessoa,
compreendidas de um modo realista e autêntico. 8. O ensinamento da
Igreja de hoje encontra-se, portanto, em continuidade orgânica com a
visão contida na Sagrada Escritura e com a constante tradição. Embora o
mundo de hoje seja, sob diversos pontos de vista, realmente mudado, a
comunidade cristã é consciente do vínculo profundo e duradouro que a une
às gerações que a precederam « no sinal da fé ». No entanto, um número
cada vez mais largo de pessoas, mesmo dentro da Igreja, exerce
fortíssima pressão para levá-la a aceitar a condição homossexual como se
não fosse desordenada e a legitimar os atos homossexuais. Os que, no
interior da Igreja, pressionam nesta direção, frequentemente mantêm
estreita ligação com os que agem fora dela. Ora, tais grupos externos
são movidos por uma visão oposta à verdade acerca da pessoa humana,
verdade que nos foi revelada plenamente no mistério de Cristo. Embora de
modo não de todo consciente, eles manifestam uma ideologia
materialista, que nega a natureza transcendente da pessoa humana bem
como a vocação sobrenatural de cada indivíduo. Os ministros da Igreja
devem agir de tal modo que as pessoas homossexuais confiadas aos seus
cuidados não sejam desencaminhadas por estas opiniões, tão profundamente
opostas ao ensino da Igreja. Contudo o risco é grande e existem muitos
que procuram criar confusão quanto à posição da Igreja e aproveitar-se
de tal confusão em favor de seus próprios objetivos. 9. Mesmo dentro da
Igreja formou-se uma corrente, constituída por grupos de pressão com
denominações diferentes e diferente amplitude, que tenta impôr-se como
representante de todas as pessoas homossexuais que são católicas. Na
realidade, seus adeptos são, na maioria dos casos, pessoas que, ou
desconhecem o ensinamento da Igreja, ou procuram subvertê-lo de alguma
maneira. Tenta-se reunir sob a égide do catolicismo pessoas homossexuais
que não têm a mínima intenção de abandonar o seu comportamento
homossexual. Uma das táticas usadas é a de afirmar, em tom de protesto,
que qualquer crítica ou reserva às pessoas homossexuais, à sua atitude
ou ao seu estilo de vida, é simplesmente uma forma de injusta
discriminação. Em algumas nações funciona, como consequência, uma
tentativa de pura e simples manipulação da Igreja, conquistando-se o
apoio dos pastores, frequentemente em boa fé, no esforço que visa mudar
as normas da legislação civil. Finalidade de tal ação é ajustar esta
legislação à concepção própria de tais grupos de pressão, para a qual o
homossexualismo é, pelo menos, uma realidade perfeitamente inócua,
quando não totalmente boa. Embora a prática do homossexualismo esteja
ameaçando seriamente a vida e o bem-estar de grande número de pessoas,
os fautores desta corrente não desistem da sua ação e recusam
levar em consideração as proporções do risco que ela implica. A Igreja
não pode despreocupar-se de tudo isto e por conseguinte mantém firme a
sua posição clara a respeito, posição que não pode, certamente,
modificar-se sob a pressão da legislação civil ou da moda do momento.
Ela se preocupa também, sinceramente, pelos muitos que não se sentem
representados pelos movimentos pró-homossexuais e por aqueles que
poderiam ser tentados a crer em sua propaganda enganadora. Ela é
consciente de que a opinião segundo a qual a atividade homossexual seria
equivalente à expressão sexual do amor conjugal ou, pelo menos,
igualmente aceitável, incide diretamente sobre a concepção que a
sociedade tem da natureza e dos direitos da família, pondo-os seriamente
em perigo. 10. É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais
tenham sido e sejam ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações
violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores
da Igreja, onde quer que aconteçam. Eles revelam uma falta de respeito
pelos outros que fere os princípios elementares sobre os quais se
alicerça uma sadia convivência civil. A dignidade própria de cada pessoa
deve ser respeitada sempre, nas palavras, nas ações e nas legislações.
Todavia, a necessária reação diante das injustiças cometidas contra as
pessoas homossexuais não pode levar, de forma alguma, à afirmação de que
a condição homossexual não seja desordenada. Quando tal afirmação é
aceita e, por conseguinte, a atividade homossexual é considerada boa, ou
quando se adota uma legislação civil para tutelar um comportamento ao
qual ninguém pode reivindicar direito algum, nem a Igreja nem a
sociedade em seu conjunto deveriam surpreender-se se depois também
outras opiniões e práticas distorcidas ganham terreno e se aumentam os
comportamentos irracionais e violentos. 11. Alguns afirmam que a
tendência homossexual, em certos casos, não é fruto de uma opção
deliberada e que a pessoa homossexual não tem outra alternativa, sendo
obrigada a se comportar de modo homossexual. Por conseguinte, afirma-se
que, em tais casos, ela agiria sem culpa, não sendo realmente livre. A
este propósito, é necessário referir-se à sábia tradição moral da
Igreja, que alerta para as generalizações no julgamento dos casos
individuais. De fato, em um determinado caso, podem ter existido no
passado, e podem subsistir ainda, circunstâncias tais que reduzem ou até
mesmo eliminam a culpa do indivíduo; outras circunstâncias, ao
contrário, podem agravá-la. Em todo caso, deve-se evitar a presunção
infundada e humilhante de que o comportamento homossexual das pessoas
homossexuais esteja sempre e totalmente submetido à coação e, portanto,
seja sem culpa. Na realidade, também às pessoas com tendência
homossexual deve ser reconhecida aquela liberdade fundamental que
caracteriza a pessoa humana e lhe confere a sua particular dignidade.
Como em toda conversão do mal, graças a tal liberdade, o esforço humano,
iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá permitir-lhes evitar a
atividade homossexual. 12. Que deve fazer, então, uma pessoa
homossexual que procura seguir o Senhor? Substancialmente, tais pessoas
são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida, unindo ao
sacrifício da cruz do Senhor todo sofrimento e dificuldade que possam
experimentar por causa da sua condição. Para quem crê, a cruz é um
sacrifício frutuoso, pois daquela morte derivam a vida e a redenção.
Ainda que se possa prever que qualquer convite
a carregar a cruz ou a compreender de tal forma o sofrimento do cristão
será ridicularizado por alguns, é preciso recordar que é este o caminho
da salvação para todos aqueles que seguem o Cristo. Não é outro, na
realidade, o ensinamento transmitido pelo apóstolo Paulo aos Gálatas,
quando diz que o Espírito produz na vida do fiel « amor, alegria, paz,
paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão e auto-domínio »
e, mais adiante: «Não podeis pertencer a Cristo sem crucificar a carne
com as suas paixões e os seus desejos » (Gal 5, 22. 24). Todavia, este
convite é facilmente mal interpretado, se é considerado apenas
como um inútil esforço de auto-renegação. A cruz é, sem dúvida,
renegação de si mesmo, mas no abandono à vontade daquele Deus que da
morte faz brotar a vida e habilita os que nele depositam a sua confiança
a praticarem a virtude em lugar do vício. Só se celebra autenticamente o
Mistério Pascoal quando se deixa que ele impregne o tecido da vida
cotidiana. Recusar o sacrifício da própria vontade na obediência à
vontade do Senhor é, de fato, opor obstáculo à salvação. Exatamente como
a Cruz é o centro da manifestação do amor redentor que Deus tem por nós
em Jesus, assim o fato de conformarem a negação de si mesmos ao
sacrifício do Senhor constituirá para homens e mulheres homossexuais uma
fonte de auto-doação que os salvará de uma forma de vida que
continuamente ameaça destruí-los. As pessoas homossexuais, como os
demais cristãos, são chamadas a viver a castidade. Dedicando-se com
assiduidade a compreender a natureza do chamado pessoal que Deus lhes
dirige, serão aptas a celebrar mais fielmente o sacramento da Penitência
e a receber a graça do Senhor que, neste mesmo sacramento, se oferece
para generosamente poderem converter-se mais plenamente ao seu
seguimento. 13. É evidente, por outro lado, que uma clara e eficaz
transmissão da doutrina da Igreja a todos os fiéis e à sociedade no seu
conjunto depende em grande parte do ensinamento correto e da fidelidade
daqueles que exercem o ministério pastoral. Os Bispos têm a
responsabilidade particularmente grave de preocupar-se que seus
colaboradores no ministério e, sobretudo, os sacerdotes, sejam
corretamente informados e pessoalmente bem dispostos a comunicar a todos
a doutrina da Igreja na sua integridade. São dignas de admiração a
particular solicitude e a boa vontade demonstradas por muitos sacerdotes
e religiosos, no atendimento pastoral às pessoas homossexuais; esta
Congregação espera que tal solicitude e boa vontade não diminuam. Estes
zelosos ministros devem nutrir a certeza de que estão seguindo fielmente
a vontade do Senhor quando encorajam a pessoa homossexual a levar uma
vida casta e relembram a dignidade incomparável que Deus lhe deu também.
14. Considerando tudo o que precede, esta Congregação deseja pedir aos
Bispos que sejam particularmente vigilantes com relação aos programas
que, de fato, tentam exercer pressão sobre a Igreja a fim de que ela
mude a sua doutrina, embora às vezes, verbalmente neguem que seja assim.
Um estudo atento das declarações públicas neles contidas e das
atividades que promovem revela uma calculada ambiguidade, através da
qual procuram desviar pastores e fiéis. Por exemplo, costumam citar o
ensinamento do Magistério, mas somente como uma fonte facultativa na
formação da consciência; sua autoridade peculiar não é reconhecida.
Alguns grupos costumam até mesmo qualificar de « católicas » as suas
organizações ou as pessoas às quais pretendem dirigir-se, mas, na
realidade, não defendem nem promovem o ensinamento do Magistério; ao
contrário, às vezes, atacam-no abertamente. Mesmo reafirmando a vontade
de conformar sua vida ao ensinamento de Jesus, de fato os membros desses
grupos abandonam o ensinamento da Sua Igreja. Este comportamento
contraditório de forma alguma pode receber o apoio dos Bispos. 15. Esta
Congregação encoraja, pois, os Bispos a promoverem, nas suas dioceses,
uma pastoral para as pessoas homossexuais, plenamente concorde com o
ensinamento da Igreja. Nenhum programa pastoral autêntico poderá incluir
organizações em que pessoas homossexuais se associem entre si, sem que
fique claramente estabelecido que a atividade homossexual é imoral. Uma
atitude verdadeiramente pastoral incluirá a necessidade de evitar, para
as pessoas homossexuais, as ocasiões próximas de pecado. Devem ser
encorajados os programas em que tais perigos sejam evitados. Mas é
necessário deixar bem claro que afastar-se do ensino da Igreja ou fazer
silêncio em torno dele, sob o pretexto de oferecer um atendimento
pastoral, não é forma legítima nem de autêntica atenção nem de pastoral
válida. Em última análise, somente aquilo que é verdadeiro pode ser
também pastoral. Quando não se tem presente a posição da Igreja,
impede-se a homens e mulheres homossexuais de receberem o atendimento de
que necessitam e ao qual têm direito. Um programa pastoral autêntico
ajudará as pessoas homossexuais em todos os níveis da sua vida
espiritual, mediante os sacramentos e, particularmente, a frequente e
sincera confissão sacramental, como também através da oração, do
testemunho, do aconselhamento e da atenção individual. Desta forma, a
comunidade cristã na sua totalidade pode chegar a reconhecer sua vocação
de assistir estes seus irmãos e irmãs, evitando-lhes tanto a desilusão
como o isolamento. 16. Desta abordagem diversificada podem advir muitas
vantagens, entre as quais não menos importante é a constatação de que
uma pessoa homossexual, como, de resto, qualquer ser humano, tem uma
profunda exigência de ser ajudada contemporaneamente em vários níveis. A
pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não pode
definir-se cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua
orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra
conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também
oportunidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A
Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que
hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a
considerar a pessoa meramente como um « heterossexual » ou um «
homossexual », sublinhando que todos têm uma mesma identidade
fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida
eterna. 17 Apresentando à atenção dos Bispos esses esclarecimentos e
orientações pastorais, esta Congregação deseja ajudar os seus esforços
no sentido de assegurar que o ensinamento do Senhor e da Sua Igreja
acerca deste importante tema seja transmitido integralmente a todos os
fiéis. À luz do que se acaba de expor, os Ordinários locais são
convidados a avaliar, no âmbito da própria competência, a necessidade de
particulares iniciativas. Além disso, se julgarem útil, poder-se-á
recorrer a uma ação mais extensa, coordenada a nível das Conferências
episcopais nacionais. Os Bispos serão particularmente solícitos em
apoiar com todos os meios à sua disposição, o desenvolvimento de formas
especializadas de atendimento pastoral às pessoas homossexuais. Isso
poderia incluir a colaboração das ciências psicológicas, sociológicas e
médicas, mantendo-se sempre na plena fidelidade à doutrina da Igreja. Os
Bispos, sobretudo, não deixarão de solicitar a colaboração de todos os
teólogos católicos, os quais, ensinando o que a Igreja ensina e
aprofundando com as suas reflexões o significado autêntico da
sexualidade humana e do matrimônio cristão no plano divino, como também
das virtudes que este comporta, poderão desta forma oferecer um válido
auxílio neste campo específico da atividade pastoral. Particular atenção
deverão ter os Bispos, além disso, ao escolher os ministros a serem
encarregados desta delicada tarefa, de modo que estes, graças à sua
fidelidade ao Magistério e ao seu elevado grau de maturidade espiritual e
psicológica, possam ser de real ajuda às pessoas homossexuais, de forma
que elas alcancem o seu bem integral. Tais ministros rechaçarão as
opiniões teológicas que são contrárias ao ensinamento da Igreja e que,
portanto, não podem servir como diretrizes no campo pastoral. Será
conveniente além disso promover adequados programas de catequese,
baseados na verdade acerca da sexualidade humana, na sua relação com a
vida da família, tal como é ensinada pela Igreja. Tais programas, com
efeito, fornecem um ótimo contexto, dentro do qual pode ser abordada
também a questão do homossexualismo. Esta catequese poderá ajudar
inclusive as famílias em que se encontrem pessoas homossexuais, a
enfrentar um problema que as atinge tão profundamente. Deve ser retirado
todo apoio a qualquer organização que procure subverter o ensinamento
da Igreja, que seja ambígua quanto a ele ou que o transcure
completamente. Tal apoio, mesmo só aparente, pode dar origem a
malentendidos graves. Uma atenção especial deveria ser dedicada à
programação de celebrações religiosas e ao uso, por parte desses grupos,
de edifícios de propriedade da Igreja, inclusive a possibilidade de
dispor das escolas e dos institutos católicos de estudos superiores.
Para alguns, tal permissão de utilizar uma propriedade da Igreja pode
parecer apenas um gesto de justiça e de caridade, mas, na realidade, ela
contradiz as finalidades mesmas para as quais aquelas instituições
foram fundadas, e pode ser fonte de malentendidos e de escândalo. Ao
avaliar eventuais projetos legislativos, dever-se-á pôr em primeiro
plano o empenho na defesa e promoção da vida da família. 18. O Senhor
Jesus disse: « Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará » (Jo 8,
32). A Sagrada Escritura manda-nos realizar a verdade na caridade (cfr.
Ef 4, 15). Deus, que é ao mesmo tempo verdade e amor, chama a Igreja a
pôr-se ao serviço de cada homem, mulher e criança, com a solicitude
pastoral do nosso Senhor misericordioso. É com este espírito que a
Congregação para a Doutrina da Fé endereça a presente Carta aos Bispos
da Igreja, na esperança de que lhes sirva de ajuda no atendimento
pastoral a pessoas cujos sofrimentos só poderão agravar-se por doutrinas
erróneas, enquanto que a palavra da verdade os aliviará. O Sumo
Pontífice João Paulo II, no decurso da Audiência concedida ao Prefeito
abaixo-assinado, aprovou e ordenou a publicação da presente Carta,
decidida em reunião ordinária desta Congregação.
Roma, da sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 1º de outubro de
1986. Joseph Card. Ratzinger Prefeito + Alberto Bovone Arcebispo Tit. de
Cesaréia de Numídia Secretário.
Carta aos Bispos da Igreja católica sobre o atendimento pastoral das
pessoas Homossexuais” abril 15th, 2012 CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA SOBRE O ATENDIMENTO PASTORAL DAS
PESSOAS HOMOSSEXUAIS
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