A situação é extremamente preocupante: no Brasil, há
uma televisão de altíssimo nível técnico e baixíssimo nível de
programação. Sem nenhum controle ético por parte da sociedade, os chamados canais abertos (aqueles que se podem assistir gratuitamente) fazem a cabeça dos brasileiros.
E, com precisão satânica, vão destruindo tudo que encontram
pela frente: a sacralidade da família, a fidelidade conjugal, o respeito
e veneração dos filhos para com os pais, o sentido de tradição (isto é,
saber valorizar e acolher os valores e as experiências das gerações
passadas), as virtudes, a castidade, a indissolubilidade do matrimônio, o
respeito pela religião, o temor amoroso para com Deus.
Na telinha, tudo é permitido, tudo é bonitinho, tudo é novidade, tudo
é relativo! Na telinha, a vida é pra gente bonita, sarada, corpo legal…
A vida é sucesso, é romance com final feliz, é amor livre, aberto
desimpedido, é vida que cada um faz e constrói como bem quer e entende!
Na telinha tem a Xuxa, a Xuxinha, inocente, com rostinho de anjo, que
ensina às jovens o amor liberado e o sexo sem amor, somente pra fabricar
um filho… Na telinha tem o Gugu, que aprendeu com a Xuxa e também
fabricou um bebê… Na telinha tem os debates frívolos do Fantástico, show
da vida ilusória… Na telinha tem ainda as novelas que ensinam a trair, a
mentir, a explorar e a desvalorizar a família… Na telinha tem o show de
baixaria do Ratinho e do programa vespertino da Bandeirantes, o cinismo
cafona da Hebe, a ilusão da Fama… Enquanto na realidade que ela, a
satânica telinha ajuda a criar, temos adolescentes grávidas deixando os
pais loucos e a o futuro comprometido, jovens com uma visão fútil e
superficial da vida, a violência urbana, em grande parte fruto da
demolição das famílias e da ausência de Deus na vida das pessoas, os
entorpecentes, um culto ridículo do corpo, a pobreza e a injustiça
social… E a telinha destruindo valores e criando ilusão…
E quando se questiona a qualidade
da programação e se pede alguma forma de controle sobre os meios de
comunicação, as respostas são prontinhas: (1) assiste quem quer e quem
gosta, (2) a programação é espelho da vida real, (3) controlar e
informação é antidemocrático e ditatorial… Assim, com tais desculpas
esfarrapadas, a bênção covarde e omissa de nossos dirigentes dos três
poderes e a omissão medrosa das várias organizações da sociedade civil –
incluindo a Igreja, infelizmente – vai a televisão envenenando,
destruindo, invertendo valores, fazendo da futilidade e do paganismo a
marca registrada da comunicação brasileira…
Um triste e último exemplo de tudo isso é o atual programa da Globo, o
Big Brother (e também aquela outra porcaria, do SBT, chamada Casa dos
Artistas…). Observe-se como o Pedro Bial, apresentador global, chama os
personagens do programa: “Meus heróis! Meus guerreiros!” – Pobre Brasil!
Que tipo de heróis, que guerreiros! E, no entanto, são essas pessoas
absolutamente medíocres e vulgares que são indicadas como modelos para
os nossos jovens!
Como o programa é feito por pessoas reais, como são na vida, é ainda
mais triste e preocupante, porque se pode ver o nível humano tão baixo a
que chegamos! Uma semana de convivência e a orgia corria solta… Os
palavrões são abundantes, o prato nosso de cada dia… A grande
preocupação de todos – assunto de debates, colóquios e até crises – é a
forma física e, pra completar a chanchada, esse pessoal,
tranqüilamente dá-se as mãos para invocar Jesus… Um jesusinho bem
tolinho, invertebrado e inofensivo, que não exige nada, não tem nenhuma
influência no comportamento público e privado das pessoas… Um jesusinho
de encomenda, a gosto do freguês… que não tem nada a ver com o Jesus
vivo e verdadeiro do Evangelho, que é todo carinho, misericórdia e
compaixão, mas odeia o fingimento, a hipocrisia, a vulgaridade e a falta
de compromisso com ele na vida e exige de nós conversão contínua! Um
jesusinho tão bonzinho quanto falsificado… Quanta gente deve ter ficado
emocionada com os “heróis” do Pedro Bial cantando “Jesus Cristo, eu
estou aqui!”
Até quando a televisão vai assim? Até quando os brasileiros ficaremos
calados? Pior ainda: até quando os pais deixarão correr solta a
programação televisiva em suas casas sem conversarem sobre o problema
com seus filhos e sem exercerem uma sábia e equilibrada censura? Isso
mesmo: censura! Os pais devem ter a responsabilidade de saber a que
programas de TV seus filhos assistem, que sites da internet seus filhos
visitam e, assim, orientar, conversar, analisar com eles o conteúdo de
toda essa parafernália de comunicação e, se preciso, censurar este ou
aquele programa. Censura com amor, censura com explicação dos motivos,
não é mal; é bem! Ninguém é feliz na vida fazendo tudo que quer, ninguém
amadurece se não conhece limites; ninguém é verdadeiramente humano se
não edifica a vida sobre valores sólidos… E ninguém terá valores sólidos
se não aprende desde cedo a escolher, selecionar, buscar o que é belo e
bom, evitando o que polui o coração, mancha a consciência e deturpa a
razão!
Por Dom Henrique Soares, Bispo Auxilias da Arquidiocese de Aracajú-SE. |
Aqui não se trata de ser moralista, mas de chamar atenção para uma
realidade muito grave que tem provocado danos seríssimos na sociedade.
Quem dera que de um modo ou de outro, estas linha de editorial servissem
para fazer pensar e discutir e modificar o comportamento e as atitudes
de algumas pessoas diante dos meios de comunicação.
Fonte: Padre Eduardo Furtado/www.proparnaiba.com
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