No ardor do sucesso nem todos entendem este valor
Tarefa ingrata.
Uma das tarefas mais ingratas da comunicação cristã é convencer um
comunicador cristão que ele prega errado, sua doutrina tem graves
desvios e lacunas e que ele deve mudar o conteúdo e a forma. Ele
esperneará, estalará um muxoxo, dará de ombros, ignorará e, se ficar
muito ofendido, não falará mais com você e jogará seus discípulos contra
você. Se ele tem mais sucesso e reúne e agrada a mais gente que seu
bispo e seus colegas padres juntos, ou, se for pastor, atinge mais fiéis
do que atingem 100 pastores, por que haveria de mudar?
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Saber criticar.
Se o crítico tiver 50 anos de púlpito e mostrar realização semelhante à
do pregador vitorioso, ainda assim o moderno e novo pregador alegará
que atinge mais gente e que os tempos mudaram. Não aceitará orientações
ou críticas de quem teve sucesso ontem, mas não teria hoje. Isso
silencia qualquer professor de homilética ou de comunicação. Valem os
novos instrumentos, os novos métodos, as novas alianças e os novos
tempos. Equivaleria a dizer que médicos criadores de hospitais não têm o
que ensinar ao novo médico inundado de aplausos e versado em novas
técnicas. Além da técnica existe a ética, mas no ardor do sucesso nem
todos entendem esses valores! O sucesso tende a pôr a realização acima
dos valores.
Os fatos. Os fatos se encarregam de mostrar a realidade. Há tintas novas e brilhantes que chamam atenção, mas desbotam mais depressa do que as tintas não tão chamativas que, porém, duram décadas. Dirão que não é a mesma coisa. Os arquitetos e decoradores sabem que vai depender muito da tinta e não da ênfase das cores. Isso de durar mais tempo é algo inerente à tinta, às camadas e ao ato de pintar.
Comunicar dói. Aí entra, de novo, o crítico da comunicação de quem se comunica para multidões. Ir longe nem sempe é ir certo. Hitler e Fidel Castro empolgavam multidões. Reuniram milhões. É de se perguntar se pregaram a justiça. Elvis Presley, os Beatles e Michael Jackson empolgaram milhões de fãs, mas aquilo durou o tempo que durou, com enormes estragos para a sua personalidade. Tão poderosos e tão dependentes… Os Papas reúnem milhões de pessoas em virtude do cargo, mas olhemos o conteúdo deles e o dos comunicadores famosos que usam a mídia de agora. As chaves mestras são o conteúdo, a ética do comunicar e a representatividade do falar.
Correção fraterna. Quando, pois, algum irmão na fé chama a atenção para o conteúdo e a forma de catequese do outro é melhor que o crítico prove que tem este conteúdo e esta serenidade e que o criticado prove que também os tem.
Marketing danoso. Em matéria de púlpito há sempre o perigo do deslumbramento e do pouco vislumbre. O imediatismo é um grande inimigo dos que agora mergulham em cheio na mídia moderna. Abraçar o marketing sem reservas não é boa escolha. Talvez isso explique tantos milagres e curas, tantos novos demônios, tantas respostas rápidas e urgentes e tantas promessas de fé eficaz. O marketing da fé tem esse inconveniente. Por ser marketing tem pressa e precisa superlativar fatos, pessoas e igrejas, caso contrário não empolgará nem trará novos adeptos. Maquia-se o que não vai bem e acentua-se o que parece vitorioso. Por isso o microfone é facilmente colocado nas mãos do fiel que acaba de receber a cura de um tumor, ali mesmo, no templo. Mas o mesmo microfone não será posto nas mesmas mãos quando o fiel voltar dizendo que o tumor voltou… Atrapalharia o marketing daquele pregador e daquela igreja. Já vi este filme diversas vezes. Não havendo Procon da fé o fiel não curado não tem a quem recorrer. Ou teria?
Crítica construtiva. O crítico da comunicação religiosa há de admitir críticas à sua atuação, pedir perdão quando errar e aceitar corrigir seus textos e suas posturas. Se quiser ter autoridade começará por si mesmo. Mas não deve ter medo de falar claro com quem está na "crista da onda". Quem já surfou tem todo o direito de chamar a atenção dos novos surfistas, desde que aceite que os novos surfistas lhe mostrem as novas técnicas desse perigoso e bonito esporte.
Pregar não é esporte, mas é tão perigoso quanto surfar ondas em mar revolto. Os cursos de comunicação existem, não apenas para quem começa a surfar as ondas, mas também para quem domina pranchas e já ganhou prêmios internacionais. E daí? Até o Papa e os reis são orientados por assessores!
Cantei doante do beato João Paulo II duas vezes e lembro-me do cuidado com que preparava os papéis e os dois microfones antes de falar. E de comunicação ele entendia! Na enfermidade perdeu o brilho, mas não a mística. Vi-o pregar dias antes de sua morte. Passava credibilidade!
Hoje, quando vejo cantores e compositores se negando a corrigir textos errôneos, sem o menor desejo de corrigir suas celebrações, seguros de que o que fazem é o melhor para o povo de Deus, interrogo-me sobre as novas tintas, os novos métodos e as novas iluminuras. Parecem melhores e mais vistosas. Tomara que sejam. Uma igreja inteira está questionando nosso conteúdo, nossa maneira de pregar e presidir a Eucaristia, os holofotes e os protagonismos de agora. Outra vez, tomara que estejamos todos errados e que os que atingem multidões estejam certos. Afinal, é a eles que as multidões ouvem. Os mestres dessa gente são eles. Seus ouvintes não ouvem os professores universitários nem os bispos. Se eles se desviarem na doutrina e no testemunho, o estrago será maior. Pede-se mais daquele a quem mais foi concedido. Pelo volume de pessoas que tingem deveriam ler dez vezes mais que os outros colegas. Espero que o façam!
Por: Padre Zezinho
Escritor, compositor e cantor. Congregação Dehonianos
Os fatos. Os fatos se encarregam de mostrar a realidade. Há tintas novas e brilhantes que chamam atenção, mas desbotam mais depressa do que as tintas não tão chamativas que, porém, duram décadas. Dirão que não é a mesma coisa. Os arquitetos e decoradores sabem que vai depender muito da tinta e não da ênfase das cores. Isso de durar mais tempo é algo inerente à tinta, às camadas e ao ato de pintar.
Comunicar dói. Aí entra, de novo, o crítico da comunicação de quem se comunica para multidões. Ir longe nem sempe é ir certo. Hitler e Fidel Castro empolgavam multidões. Reuniram milhões. É de se perguntar se pregaram a justiça. Elvis Presley, os Beatles e Michael Jackson empolgaram milhões de fãs, mas aquilo durou o tempo que durou, com enormes estragos para a sua personalidade. Tão poderosos e tão dependentes… Os Papas reúnem milhões de pessoas em virtude do cargo, mas olhemos o conteúdo deles e o dos comunicadores famosos que usam a mídia de agora. As chaves mestras são o conteúdo, a ética do comunicar e a representatividade do falar.
Correção fraterna. Quando, pois, algum irmão na fé chama a atenção para o conteúdo e a forma de catequese do outro é melhor que o crítico prove que tem este conteúdo e esta serenidade e que o criticado prove que também os tem.
Marketing danoso. Em matéria de púlpito há sempre o perigo do deslumbramento e do pouco vislumbre. O imediatismo é um grande inimigo dos que agora mergulham em cheio na mídia moderna. Abraçar o marketing sem reservas não é boa escolha. Talvez isso explique tantos milagres e curas, tantos novos demônios, tantas respostas rápidas e urgentes e tantas promessas de fé eficaz. O marketing da fé tem esse inconveniente. Por ser marketing tem pressa e precisa superlativar fatos, pessoas e igrejas, caso contrário não empolgará nem trará novos adeptos. Maquia-se o que não vai bem e acentua-se o que parece vitorioso. Por isso o microfone é facilmente colocado nas mãos do fiel que acaba de receber a cura de um tumor, ali mesmo, no templo. Mas o mesmo microfone não será posto nas mesmas mãos quando o fiel voltar dizendo que o tumor voltou… Atrapalharia o marketing daquele pregador e daquela igreja. Já vi este filme diversas vezes. Não havendo Procon da fé o fiel não curado não tem a quem recorrer. Ou teria?
Crítica construtiva. O crítico da comunicação religiosa há de admitir críticas à sua atuação, pedir perdão quando errar e aceitar corrigir seus textos e suas posturas. Se quiser ter autoridade começará por si mesmo. Mas não deve ter medo de falar claro com quem está na "crista da onda". Quem já surfou tem todo o direito de chamar a atenção dos novos surfistas, desde que aceite que os novos surfistas lhe mostrem as novas técnicas desse perigoso e bonito esporte.
Pregar não é esporte, mas é tão perigoso quanto surfar ondas em mar revolto. Os cursos de comunicação existem, não apenas para quem começa a surfar as ondas, mas também para quem domina pranchas e já ganhou prêmios internacionais. E daí? Até o Papa e os reis são orientados por assessores!
Cantei doante do beato João Paulo II duas vezes e lembro-me do cuidado com que preparava os papéis e os dois microfones antes de falar. E de comunicação ele entendia! Na enfermidade perdeu o brilho, mas não a mística. Vi-o pregar dias antes de sua morte. Passava credibilidade!
Hoje, quando vejo cantores e compositores se negando a corrigir textos errôneos, sem o menor desejo de corrigir suas celebrações, seguros de que o que fazem é o melhor para o povo de Deus, interrogo-me sobre as novas tintas, os novos métodos e as novas iluminuras. Parecem melhores e mais vistosas. Tomara que sejam. Uma igreja inteira está questionando nosso conteúdo, nossa maneira de pregar e presidir a Eucaristia, os holofotes e os protagonismos de agora. Outra vez, tomara que estejamos todos errados e que os que atingem multidões estejam certos. Afinal, é a eles que as multidões ouvem. Os mestres dessa gente são eles. Seus ouvintes não ouvem os professores universitários nem os bispos. Se eles se desviarem na doutrina e no testemunho, o estrago será maior. Pede-se mais daquele a quem mais foi concedido. Pelo volume de pessoas que tingem deveriam ler dez vezes mais que os outros colegas. Espero que o façam!
Por: Padre Zezinho
Escritor, compositor e cantor. Congregação Dehonianos
Font: CN
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