O dia de Natal de 1961 foi a data
escolhida pelo Papa João XXIII para anunciar ao mundo que tinha chegado a
"hora de convocar o Concílio Ecumênico Vaticano II". O bem-aventurado
assinava, há 50 anos, a constituição apostólica 'Humanae Salutis', quase
três anos depois de ter anunciado a intenção de convocar um concílio,
25 de janeiro de 1959, o 21.º da história da Igreja.
"Nós, desde quando subimos ao supremo
pontificado, não obstante nossa indignidade e por um desígnio da
Providência, sentimos logo o urgente dever de conclamar os nossos filhos
para dar à Igreja a possibilidade de contribuir mais eficazmente na
solução dos problemas da idade moderna", escrevia.
Para o Papa Roncalli, que viria a
falecer antes da conclusão deste evento eclesial, "a jubilosa
repercussão que teve seu anúncio, seguida da participação orante de toda
a Igreja e do fervor nos trabalhos de preparação, verdadeiramente
encorajador, como também o vivo interesse ou, pelo menos, a atenção
respeitosa por parte de não-católicos e até de não-cristãos
demonstraram, da maneira mais eloquente, como não escapou a ninguém a
importância histórica do acontecimento".
João XXIII desejava uma "demonstração da
Igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo". "Ao
mundo perplexo, confuso, ansioso sob a contínua ameaça de novos e
assustadores conflitos, o próximo concílio é chamado a oferecer uma
possibilidade de suscitar, em todos os homens de boa vontade,
pensamentos e propósitos de paz", podia ler-se. Angelo Guiseppe
Roncalli, João XXIII, tinha sido eleito a 28 de outubro e investido a 4
de novembro de 1958, pelo que esta decisão causou "surpresa", como
refere o historiador e padre Senra Coelho, do Instituto Superior de
Teologia de Évora, num texto publicado no semanário Agência ECCLESIA.
O investigador lembra que "o Concílio
Vaticano I fora adiado sine die, devido às dificuldades políticas
surgidas com os movimentos promotores da unificação de Itália", em 1870.
Segundo o padre Senra Coelho, "com a realização do Concílio Vaticano II
mudou o olhar da Igreja para o mundo e muitos dos que estiveram sob
suspeita, foram depois referência e assumiram atuações de primeira
ordem". Paulo Rocha, diretor da Agência ECCLESIA, sublinha os
contributos enviados para Roma nos três anos anteriores à realização das
sessões conciliares, quando foram pedidos temas para debate e sugestões
para o desenrolar dos trabalhos: "A Roma chegaram quase 2 mil
respostas, onde estavam mais de 9 mil propostas".
"Depois, os anos de reunião, no
Vaticano: 2500 participantes no Concílio, observadores, peritos,
consultores teológicos, tradutores e muitas outras pessoas para
concretizar uma ideia do Papa João XXIII, expressão de procuras e
interrogações de mulheres e homens dos meados do séc. XX na tentativa de
adequar verdades eternas a novos contextos", acrescenta. O arcebispo
emérito de Braga, Portugal, D. Eurico Nogueira Dias, recorda ainda hoje o
"entusiasmo" com que recebeu a convocação e elogia o momento em que "a
Igreja resolve encarar os problemas no seu conjunto", permitindo que o
Concílio se tornasse "um lugar de discussão clara, pública e sem
reservas".
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